domingo, 4 de dezembro de 2011

Caótica India


O ar é denso. A poeira de um deserto próximo encarde os pés, os pulmões, os sáris coloridos. Vacas, camelos e elefantes pintados circulam pelas estradas, ruas estreitas e bazares. O cheiro de especiarias se mistura ao fedor do lixo a céu aberto. De tempos em tempos, o caos sonoro das buzinas dos rickshaws e música hindi é interrompido pelas badaladas das mesquitas. No lugar, um uníssono de fé mulçumana deixa as ruas vazias e, por minutos, esquece-se daquele caos já familiar.

Um homem de bigode toca cítara. Um homem de turbante encanta serpentes. Dois homens caminham de mãos dadas. Homens encaram mulheres; incomoda. Crianças observam atentas aquela raça estranha aos seus olhos arregalhados; encanta. Poucas mulheres na rua.

Os palácios de marajás. Os lagos de Udaipur. As fachadas rosas de Jaipur. Os tons de ocre de uma Jaisalmer camuflada pelo marrom árido do deserto ao fundo. Um pôr do sol no lombo de um camelo. Uma noite nas areias frias do deserto de Thar, fronteira com o Paquistão. As estrelas do deserto de Thar. Noites mal dormidas nos trens que recortam o país. Lassis, massala chais e  chapatis.  

Isso é Índia, isso é Rajastão. Entre o caos, o contraste, os extremos e hipérboles, esconde-se a região mais viva e pulsante que já pisei. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sudeste Asiatico e a hora de partir

Khao San Road, 11 da manha. Uma ultima cerveja Chang. Um ultimo padthai na sarjeta. O classico Dirty Dancing "Time of my life" numa versao ruim e barulhenta é agora trilha sonora de um filme que passa lento numa mente distante e um coracao ainda mais apaixonado pelo mundo.

Guia na mochila, mochila nas costas e é hora de partir.

É... I had the time of my life.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Laos, please don't rush

Os anos de guerra por sua independencia comunista e os impactos das guerras vizinhas Camboja e Vietna parecem nao  deixar marcas naquele povo de espirito hospitaleiro e sorriso no rosto. Com suas vestes laranja, rosto sereno e passo lento, os monges espalhados pelas ruas reforçam o ritmo vagaroso, pacato, agradável de Laos. 


Cheguei a Laos como manda o figurino: devagar. 2 dias navegando de slow-boat  o gigante Rio Mekong, suas águas castanhas e sua vida ribeirinha. E foi ali, nesse mesmo barco, que conheci 6 daqueles que seriam minha especial companhia nas proximas semanas Asia afora. 

 
Primeira parada, Luang Prabang. A expressão dolce far niente pode ser italiana, mas  é nessa charmosa cidade ao norte de Laos, que o equilibrio asiatico e a busca pelo prazer frances (heranca dos anos de colonialismo), se encontram. E assim, os dias se resumem a manhas preguicosas enquanto a chuva das monçoes de agosto lava a cidade.
Tardes de cachoeiras, templos budistas no alto da cidade, compras no melhor/mais organizado/menos insistente mercado asiático. Noites de desbunde gastronomico com uma das mais novas e interessantes culinarias ja provadas por essa viajante aqui: linguiças adocicadas, folhas crocantes de algas do Mekong, dips e temperos com uma overdose de capim-limao, churrasco estilo lao. Tudo acompanhado do tipico sticky rice (arroz grudento) e uma Beerlao trincando. Sempre em ritmo slow, quase parando. 

Cachoeiras e mais cachoeiras
Mercado local
Lao BBQ
Tem dia que a preguiça fica de lado para presenciar, as 5h30 da manha, um dos mais belos rituais budistas com um nome ainda mais poetico: Ronda das Almas, A cidade desperta cedo para servir alimentos  àquele mar de monges em vestes laranja e pes descalcos. Lindo de se ver.

Ronda das almas

Mas vai ter dia que vai dar uma preguiiiica e o dia vai passar lento num dos charmosos cafés da cidade. Aqui pode, aqui deve.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cingapura; um (breve) respiro ocidental no meio do Oriente

Jantar com vista para o skyline da cidade-pais mais luxo do Sudeste Asiatico

Apos meses de vida simples asiatica e dias de preguica urbana pos Ho Chi Minh no Vietna (5 milhoes de motocicletas, transito, barulho, poluicao e a cereja do bolo foi ter tido minha camera roubada), cheguei a questionar se meu DNA permanecia cosmopolita. E eis que vem Cingapura com sua luzes, velocidade e sofisticacao e relembra meus prazeres urbanos. 

Gastronomia sofisticada longe das barraquinhas de rua (ate o nome é luxo: fusion food). Paraiso das compras, dos eletronicos, das grifes.  Sessao de cinema high-tech (livre da dublagem e legenda asiatica). As luzes da cidade grande. Sistema de transporte de excelencia. Um jantar no topo de um arranha-céu. Tudo isso meticulosamente limpo, organizado e refrigerado 24 horas por dia com ar de primeiro mundo (e claro, a precos de primeiro mundo).


E so pra nao perder a essencia asiatica da cosa... Hospedada em Little India, compras no mercado chines, taxista malaio... Aquele colorido caotico, o burburinho oriental, a perfeita mistura de racas e religioes seguem presentes.


Cingapura é isso: um respiro ocidental no meio do Oriente. Nada mais que um respiro. Apos 4 dias do conforto ocidental, ja era hora de voltar ao caos do Oriente.

(Longe de estar pronta pra voltar pra esse lado ai do mundo...).

domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre vietnamitas, vietcongs e americanos


A Guerra do Vietna (por aqui chamada "American War") é so o episodio final de um milenio de luta armada do País contra o dominio chines, o imperio Khmer e a colonia francesa.  Se, por um lado, a Historia nao previa um Vietna dividido entre Norte e Sul por ideais comunistas e devaneios ditatoriais capitalistas, o resto da Humanidade se choca ao assistir ao vivo e a cores o limite da maldade humana com o ingresso de um terceiro elemento nessa guerra, que de fria nao teve nada, chamado America. 

Ao Sul, o lider catolico Ngo Diem se ve ameacado a perder as eleicoes para o Norte Comunista e com um golpe militar comeca a ofensiva contra o inimigo. Ao Norte, o movimento comunista ganha forca sob lideranca do "pai do povo", Ho Chi Min, e aqueles que viriam a ser chamados de vietcongs. E os Estados Unidos, quem convidou? Bem... Em epoca de Guerra Fria e sob a afronta de uma vitoria comunista puxar outros países com ideais sovieticos, os Estados Unidos passam a apoiar os desvarios do ditador Ngo Diem e a munir seu exercito com poder de fogo, dinheiro e, finalmente, com a participacao ativa do exercito americano. E assim, Ngo Diem abre as portas do Vietna àquele que derrubaria ainda mais sangue num País com passado ja sangrento. Hello, Uncle Sam.

Dentre uma serie de fatos historicos que daria um livro, as decadas seguintes marcam uma sequencia de ataques mutuos entre Norte e Sul e participacao cada vez mais ativa dos Estados Unidos na Guerra (em dado momento, o ditador do comeco da historia é derrubado - vulgo morto - pelos Estados Unidos e pelo seu proprio exercito de civis/militares insatisfeitos). Os vietcongs impressionam pela engenharia de guerra, recursos escassos e envolvimento/disfarce civil (soldado vira campones, campones vira soldado. Sem distincao de uniforme, status, idade ou sexo, uma nacao inteira - civis e militares - vai a guerra e quando necessario, se infitram no territorio inimigo sem serem notados). E assim esta armada a guerra.

Contrariando qualquer codigo de guerra que poderia existir, os Estados Unidos agravam as consequencias de uma guerra convencional com a utilizacao do nada convencional agente laranja. 83 milhoes de litros de herbicidas derramados sobre a mata vietnamita com objetivo de desfolhar a selva tornando o inimigo visivel para atilharia aerea, atingir o plantio fonte de alimento dos vietcongs e ora... eliminar de vez o inimigo, fosse ele civil ou militar. Ecocidio e carneficina sao palavras brandas para definir tamanha destruicao. Entre vencedores e vencidos, aproximadamente 4 milhoes de vietnamitas de ambos lados foram mortos (dos quais, estima-se, 2 milhoes eram civis), solamente 50 mil soldados americanos e quase 5 milhoes de cidadaos expostos ao agente laranja com consequencias que se estendem ate a terceira geracao dos atingidos.

Mais do que a visita ao Cu Chi Tunnels e o entendimento de como um exercito pequeno e sem poder bélico lutou de igual para igual contra o gigante exercito americano... Mais do que a parada desconcertante no War Remants Museum e as imagens que ilustram ate onde chega a loucura e atrocidade humana em cenario de guerra... O simples pisar no País é dessas experiencias que, de cara, muda sua historia. E mudou a minha.

O Vietna nao me foi brando. De largada, tive problemas na fronteira Laos-Vietna e periguei ter que voltar todo o caminho percorrido para regularizar meu visto (entendam por caminho percorrido as 10hs viajadas ao som de karaoke tailandes num onibus com ar condicionado quebrado e bateria de ipod arriada). Apos 4 horas na fronteira com oficiais vietnamitas com cara de mau, consegui entrar no País. E eis que vem Ho Chi Min e suas 5 milhoes de motocicleta, leva minha camera e me deixa um roxo do tamanho de um palmo aberto no pulso. Sim, questoes um tanto pequenas perto do passado sofrido e realidade dura do País. Mas suficientemente pessoais a ponto de lembrar que a violencia no País tem causa e consequencia.

Sem otimismo dessa vez. Saio do País mais forte, mais dura, mais preparada. Na falta da esperanca de sempre, fecho com John Lennon e suas palavras de paz com aquela que viraria hino anti-guerra Vietna.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida roots em Gili Meno

Gili Meno. A ilha é assim... meio Robison Crusue. Num bangalo quase pe na areia pago a bagatela de 30 reais. Apos 3 meses de banho gelado, a novidade por aqui é banho de agua do mar. Nao tem descarga. agua no baldinho. E chave na porta pra que? O dia passa entre uma caminhada pela ilha, snorkel pelos corais e um bronze num dos varios bangalos espalhados pelas areias de Meno. Entre um gole de cerveja Bintang gelada e outro, o sol se poe sobre a ilha-irma Gili Trawangan. Pra voltar pra casa, carona de charrete ou lanterna na bolsa.

Pausa pra historia: tenho um pai com manias de Indiana Jones que insistiu em incluir na minha mala duas - nao uma, DUAS!- lanternas alem de um canivete suíço que roda o mundo no fundo da minha mala. Chuta quantas lanternas eu tinha comigo na volta a cabana? Acertou, nenhuma. E talvez finalmente aquele canivete teria utilidade se eu encontrasse uma cobra no caminho. Apos 1h30 de breu naquela ilha de 300 habitantes e com eletricidade hora nao, hora nao tambem, voltei a minha cabana. So por garantia, proxima vez volto de charrete do por do sol...

Voltei. Pra fechar a noite, um peixe na grelha ainda mais fresco que o de Trawangan e é hora de dormir. Dia seguinte, as 5h30 da manha, aquele galinheiro ali do lado desperta a vila pra mais um dia vagaroso.
 
Depois da saga de volta ao paraiso (vide ultimo post) e dos meus 3 dias de Robison Crusue femea (me achando macha pos volta do por do sol no escuro), to aqui pensando... Talvez ja seja hora de voltar pra voltar pra Trawangan...
 
Beijo do paraiso


De Gili em Gili, a saga ao paraiso

Ilhas Gili, tres pequenas ilhas formam o paraiso: Gili Trawangan, a ilha baladeira onde tudo pode (vide ultimos posts). Gili Air cheia de resort, estrutura e familias nordicas (passo longe...). E Gili Meno, a mais roots, vazia, slow, imortalizada com o uber-chick-Hollywood sucesso Comer Rezar Amar (é pra la que o Javier leva a Julia Roberts com a frase em italiano "Atreversiamo". Mulherada sabe do que eu to falando).

As 3 ilhas de areia branca e agua azul turquesa ficam a um pulo de Bali (1h30 de lancha rapida) e a alguns minutos uma das outras de barco publico pela bagatela de 5 reais. Da pra brincar de ida e vinda ao paraiso algumas vezes ao dia.
 

Depois de 10 dias de Gili Trawangan, hora de novas aventuras na ilha vizinha, Gili Meno. O que eu nao contava é que o trajeto em si seria a grande aventura... 

Conhecida por meus atrasos e descompromissos na vida real, multiplique isso por 15 e terás minha versão viajante. E lá estava eu tomando minha ultima cerveja com um brasileiro em Trawangan, relaxada que só... Enfim me dou conta da hora e saio correndo loucamente de mochila nas costas pelas areias de Gili Trawangan (mais ou menos como faço em todos os voos/onibus/trens ou qualquer forma de transporte que envolva horario marcado). Entro esbaforida no barco e enquanto recupero o folego, penso comigo "Ufa! meu santo é forte mesmo...". 

Nao dessa vez... Barco errado, fui parar em Lombok. Alguns milhares de rupias a menos e uma noite em Lombok sonhando com o paraiso ali do lado, penso de novo: "Moral da historia? Nenhuma. Tudo por uma ultima Bintang no paraiso". 

domingo, 18 de setembro de 2011

Um dia em Gili Trawangan

Um nascer do sol rosado com vista para o vulcão Rinjani do lado de lá de Lombok.

Uma manha de snorkel ou mergulho (mergulho! mergulho! mergulho!) naquelas aguas azuis e aquario colorido do fundo do mar.

Um (um,dois,tres...) Gili gelato com sabor e qualidade italiana desse lado do mundo.

Um fim de tarde no bangalo com almofadas, sombra e cerveja Bintang gelada.

Pedalada pela ilha rumo ao por do sol.

A bola de fogo, linda e majestosa, fecha o dia se escondendo atras do vulcão Agung, de Bali.

A noite cai e é hora de um cinema pe na areia com direito a pipoca e tudo mais.

E pra fechar a noite com sabor indonesio, peixe fresco na grelha e uma ultima Bintang gelada.

Àqueles que o paraiso nao basta, balada itinerante 2a, 4a e 6a pelos bares da ilha. Locais, mergulhadores e shakes de cogumelo fazem a madrugada do paraiso. 
 


Confesso... Na ilha mais baladeira da Indonesia, troco shakes, mergulhadores e a turma da madrugada por mais um dia de paraiso. 

Assinado: viajante no seu 10o dia de Gili Trawangan e sem a menor pressa de partir

sábado, 17 de setembro de 2011

Gili Trawangan, a ilha mulcumana onde tudo pode

Mais um dos misterios asiaticos: Gili Trawangan, Indonesia. 


Na ilha mulcumana de aguas azuis e areia branco-algodao pode tudo. Pode Bob Marley madrugada afora enquanto soam as badaladas fervorosas das mesquitas. Pode biquini, vestido sem vergonha e ate topless. Pode cogumelo, maconha e outros tóxicos naturais.


Poder pode tudo, mas precisar, precisar mesmo... Só esse por do sol ai com efeitos pra la de alucinogenos e uma cerveja Bintang gelada.


domingo, 28 de agosto de 2011

Angkor Wat em imagens

Mais do que mil palavras... 










quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Camboja: sobre justica e minas terrestres

Em sequencia ao ultimo post, mais detalhes sobre o passado (presente) sangrento de Camboja.


Sobre justica: Lembra de uma tal de ONU, Tribunal Internacional da Justica, Direitos Humanos, patati-patata que ja vigorava com forca total em meados de 70? Chuta quem representou a nacao perante ONU ate 1991? O proprio - Pol Pot. Com isso, a Humanidade so se deu conta do ocorrido em 1997, com uma carta do primeiro-ministro de Camboja pedindo auxilio e intervencao da ONU no julgamento dos lideres do Khmer Rouge. Do alto dos seus 80 anos, os 4 lideres sobreviventes aguardam, velhos e doentes, seu julgamento final. Pol Pot livrou-se da Justica em Terra - morreu em 1998 vitima de um ataque cardiaco. Foi queimado numa pilha de pneus velhos na mesma zona rural onde escravizou, torturou, assassinou milhares de cambojanos. 

Sobre minas terrestres: Nao bastasse o rastro de sangue deixado pelos anos Khmer Rouge, centenas de cambojanos seguem morrendo ano apos vitimas de minas terrrestres ainda ativas. Camboja eh a primeira no ranking de amputados/mortos por minas terrestres do mundo. Estima-se que 600 Km de territorio permaneca contaminado e que algo entre 6 a 10 milhoes de minas seguem ativas (isso numa populacao de 14 milhoes de pessoas... Facam a conta.). Claro que os soldados que implantaram as bombas nao tem registros passiveis de rastreio. Com isso, o pais tem o grande (e caro) desafio de eliminar as minas terrestres em sua totalidade ate 2019, conforme tratado com a ONU. Sabem as 3 criancas do post anterior que fizeram meu dia feliz? O pai perdeu as 2 pernas vitima de uma mina ativa nas redondezas de Phenon Phen e comecou um lindo projeto de arte aos desabilitados fisicamente. Com o lema de "We don't beg, we work", eles tentam reescrever essa historia  triste e sangrenta com o colorido da arte. Lindo de se ver.

domingo, 14 de agosto de 2011

O passado sangrento e recente de Camboja

35 anos se passaram e a marca de um dos genocidios mais crueis da Historia continua estampada nas ruas de Camboja: Criancas e adultos com membros amputados, cadeiras de rodas e muletas em excesso, o risco eminente de minas ativas nos campos de arroz e sitios arqueologicos, pobreza generalizada, demasiado pedido de esmola, historias tristes por tras de um sorriso timido e sofrido. 

Abril de 1975. Sob lideranca do ditador Pol Pot, o partido de esquerda Khmer Rouge toma o poder. Com pretextos marxista/maoista para os mais hediondos atos, o novo governo institui o comunismo, a destruicao em massa, o exterminio de uma nacao. A populacao da capital Phenon Phen foi arrastada ao campo, na tentativa "bem-sucedida" de uma sociedade (escrava) agraria voltada a plantacao de arroz. Fim do papel-moeda, do mercado livre, das praticas religiosas, das influencias estrangeiras. Escolas, hospitais, bancos, monumentos budistas destruidos. Minas instaladas ao longo do territorio cambojano. E finalmente, exterminio das classes opositoras. Leia-se minoritarias,  primordialmente classe intelectual (como impor ideiais aos que detem conhecimento?). Entre professores, diplomatas, monges, ministros, artistas, estrangeiros ou simples moradores da cidade grande, a matanca chegou a marca de 3 milhoes, algo em torno de 30% da populacao cambojana. Em termos relativos, nenhum outro ditador sanguinario conseguiu tal feito. Nem Hitler, nem Stalin, Pol Pot foi "o cara". 

O mergulho ao passado sangrento de Camboja comeca pelo Museu do Genocidio Tuol Sleng. O que era inicialmente uma escola, virou sede de interrogatorio, prisao e exterminio dos "opositores". A entrada ao complexo - na epoca chamado Security Office 21 (S-21) - ainda exibe a cartilha de seguranca em vigor no periodo sangrento. Frases como "While getting lashes of electrification you must not cry at all" nos lembram a razao de estarmos ali. É so o comeco. A cada sala de aula que se entra, fotografias de homens, mulheres, idosos, criancas, bebes que por ali passaram. Celas e solitarias adaptadas. Tela de arame enfarpado nos andares superiores para evitar o desesperado suicidio.  Instrumentos de tortura, descricao dos metodos de tortura, fotos de tortura.  E quem precisa de estimulos visuais quando cenas de um passado recente e brutal insistem em pipocar na mente e lhe embrulhar o estomago? O ar fica denso e a tristeza é palpavel. 




A 15 Km dali, um novo cenario de horror: o campo de concentracao Choeung Ek, para onde eram encaminhados os prisioneiros da S-21 rumo a morte. De joelhos, maos amarradas, olhos tapados, recebiam um golpe quase fatal na nuca, muitas vezes seguido de decaptacao com um facao. Os oficiais sequer aguardavam o padecer final e jogavam centenas de corpos, um sobre o outro, em grandes valas cavadas no chao. As escavacoes, analises dos ossos e reconstituicao dos fatos tece um cenario ainda mais chocante: Marcas de espada e objetos pontiagudos nos cranios. Corpos de mulheres decaptadas segurando seus bebes. Sepulturas coberta de corpos de criancas. Bebes assassinados por arremesso nas arvores. 

Nem a belissima paisagem verde cambojana apaga a lembranca de quanto sangue foi derramado sobre (e sob) aquele solo. Mais do que uma homenagem ao que sofreram e padeceram sob o poder Khmer Rouge, a pilha de ossos na torre tem o importante papel de conscientizar o povo cambojano do ocorrido. Criancas, jovens e residentes do campo sao alvo de um projeto cujo o objetivo é evitar que novos golpes tragam de volta o sabor amargo de um passado recente.


Ainda as margens dessa historia sangrenta e seus resquicios (familias desfeitas, pobreza generalizada, centenas de mortes ao ano por minas ativas), o povo cambojano segue com otimismo, sorriso no rosto, estado de espirito intacto. Uma licao de vida. Fecho meu dia com uma feliz ironia: Sob as mesmas arvores contra as quais eram lancados bebes, hoje brincam 3 criancas com um sorriso no rosto capaz de apagar qualquer tristeza do meu dia. Impossivel nao se emocionar.

domingo, 31 de julho de 2011

A matematica do paraiso

5 amigas, 20 dias, 4 ilhas. 6 meios de transporte, 25 horas pra chegar numa ilha, 19 horas pra chegar em outra, alguns Valiums. 6 mergulhos, 1 tubarao e mais nemos que conchas no fundos do mar. 50 metros de nadada ate o paraiso, alguns pores do sol de perder o folego, algumas tempestades de se passar perrengue, os mais diversos tons de verde e azul em forma de oceano. Pad thai alem da conta, massagem aquem da conta e nem uma Chang ou Tiger beer a menos. Inumeros PTs, 1 pancadaria, dezenas (centenas?) de buckets de vodka e energetico, shake de manga, de banana, de cogumelo. 1 iphone a menos, 1 ipod a menos, 1 camera a menos, 1 par de havaianas a menos... E 1 paraiso a mais pra fechar essa conta.

Bem vindos ao meu novo paraiso de ginga baiana, aguas caribenhas e publico europeu. Hello, Thailand! Kop khun kha por existir!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

What happens in Bangkok...

Depois de uma temporada de regras e boa conduta australiana, comecei a sentir saudade do caos, do barulho, da bagunca de 3o mundo. Mas precisava cair na rua mais caotica, sedenta, baladeira do universo asiatico? Sim. ;)

Apresento-lhes Khao San Road, direto da cidade de Bangkok. Pra quem assistiu "Se beber nao case II", foi nessa exata rua que os "hangovers" tatuaram a cara, comeram uma ladyboy, tiveram um blackout e PT maior que o de Las Vegas. E é tudo verdade.


De mochila nas costas, as 2 da manha nesse caos desconfortavelmente delicioso que acabo de descrever, fui salva dos perrengues iniciais de Bangkok por 2 ingleses que conheci no aeroporto de Sydney. Apos 3 meses de Tailandia, pode-se dizer que eles ja tem a "ginga tailandesa". Eu que me acho muito esperta e malandra em ambientes desconhecidos e desconfortaveis, confesso que foi um belo alivio a companhia de 2 homens com paixao e carimbo tailandes nos meus primeiros segundos de madrugada na Khao San Road. Negociaram taxi, me ajudaram no meio daqueles milhoes de zeros de Baht (1 Baht, moeda tailandesa = R$ 0,05), me salvaram de alguns atropelamentos de tuk-tuk e finalmente me levaram pra um hotel no meio da Khao San Road por miseros 27 reais a noite, quarto single com ar condicionado (a grande sacada foi por 10 reais mudar para os quartos do fundo, mil vezes mais charmosos e sem um pio do lado de fora da rua. Porque, nao, a Khao San Road nao dorme. Olha que charme de quarto!).


E assim comecaram meus dias asiaticos.

As 40 horas seguintes foi uma sucessao de suor, delicias tailandesas de barraquinha, cervejas Chang, trio Neosaldina/Engov/Valium, massagem tailandesa pra curar a ressaca, piercings e tatoos (calma que eu so voltei com meu piercing no nariz), uma tarde de beleza por um trocado e finalmente, compras (eu sei, jurei que nao ia gastar um tostao do meu santo dinheiro de viagem com compras. Mas de repente suas roupas ocidentais sao pesadas demais para o calor denso de 35oC e voce se depara com barraquinhas de roupas hippies, cool, lindas por 10 reais e uma 25 de Marco com 8 andares vazia, com ar condicionado e oriental... E tudo taaaao baratinho... Minha mala de 12Kg saltou pra 15, facil).  

Toda essa mistura com uma lingua, cultura, raca, religiao oriental que da o vies do desconhecido e deixa tudo mais apaixonante.



Mal cheguei e ja é hora de partir. Nao sai das redondezas de Khao San Road, nao pisei em um templo, nao andei de tuk-tuk, nao sei a cara do mercado flutuante, nao assisti a uma luta de muay thai, nao vi Bangkok do alto dos seus arranha-ceus. Mas calma que eu volto. Meus dias de sudeste asiatico terminam na mesma Bangkok que comecei. Hello, Asia! Obrigada por existir!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Amor leve

Descobri porque Sydney mexe assim comigo. Culpa do colorido dessa cidade. "There's a different quality of light over this side of the world", disse um amigo inglês. Não poderia concordar mais. O dia nasce entre o rosa e o azul, segue com um céu lindo de doer deixando aquele turquesa do mar ainda mais brilhante, e o pôr do sol... Ah, pôr do sol, seu lindo... Às 4 da tarde começa o show de luzes e cores, uma paleta que vai do amarelo, laranja, vermelho a um azul escuro, quase roxo. Só vendo pra entender. E com isso, sou feliz em Sydney todos os dias, sem exceção...

...Exceto nos últimos dias. Só vi nuances de cinza. Entre ventania, chuva e aquele mar que estava mais pra virado do que azul, a vida em Sydney ficou reclusa, melancólica, chata. E junto com o colorido da cidade foi meu bom humor. Não fossem as garrafas de vinho de 10 dólares, teria tocado viagem para a Tailândia no dia seguinte. Só que uma hora o estoque de vinho acaba, né? E num domingo de pizza e música brasileira, o vinho acabou. Já disse que tem um bottle shop a alguns metros do meu prédio? Pois bem. Lá fui eu de moletom, legging, havaianas e sem um blush na cara comprar um novo estoque de vinho. E de moletom, legging, havaianas e sem um blush na cara, conheci um neozelandês.

Abre parênteses. Não vou abrir meu diário de confidências amorosas, mas breve desabafo: Tô achando esse mercado amoroso australiano uma mer...cazzo! Não sei se é o status de residente e não mais viajante, o tempo curto demais pro amor e longo demais pra paixão, o inverno... Enfim, cadê os australianos interessantes desse país? Em Sydney que não estão! Entendam: não estou pedindo amor da vida ou paixão louca que me faça perder o sono, a razão, a sanidade, o próximo vôo. Não estou sequer pedindo uma amor leve de Chico. Só uma saída com direito (e vontade) de repeto. É pedir muito? Fecha parênteses.

Cena bottle shop. Eu: moletom cinza, legging, havaianas, check, check, check. Maquiagem, non check. Ele: moreno, sorriso bonito, camisa xadrez (aqui o filtro moços de camisa xadrez ainda se aplica. E é golpe baixo como o cabelo molhado beneficia os homens na mesma proporção que atrapalha as mulheres). Approach bom, patati patatá, when you leave town, meet tomorrow for a beer? Amanhã virou depois de amanhã que virou quarta-feira às 6 da tarde, poucas horas antes dele embarcar no vôo rumo a Auckland (Pelo visto, é, sim, pedir muito uma saída com vontade e direito a repeteco).

Nas primeiras cervejas e tópico Sydney, comentei da minha lista de lugares a conhecer em Sydney*. Ele, que já morou alguns anos aqui, quis ver a tal lista (não, não é uma lista mental), e teve a brilhante idéia de cobrir comigo os bares que eu queria conhecer. E assim foi. A chuva deu trégua, a lua cheia voltou a cobrir Sydney durante as últimas 5 horas dele na cidade. A pé, começamos pela Art Gallery que estava louca pra conhecer (lindíssima!), seguimos pra Surry Hills e por lá exploramos 6 bares de Sydney que me valeram a viagem.

Bom, chega de bla bla bla amoroso, que de amor essa noite não teve nada. Nem paixão. Sequer amor leve de Chico.  Foi só uma saída com vontade de repeteco no meio de uma Sydney chuvosa e cinzenta. Aí vai a galeria de fotos da noite cultural/etílica (Instalgram. E salve Iphone) e "Amor Leve" de Chico.

Hyde Park
Art Gallery of NSW, After Hours: entrada grátis e até 21h às quartas

Lo Fi: decoração vintage, exposições de arte, clima very much cool 

Shady Pines Saloon: música folk, pint bem tirada e amendoim de cortesia

Hunky Dory: lindo, intimista e excelente carta de cerveja ozzie

The Commons: "best small bar" pela Timeout, um charme a la Provance
Bar H: Longe do circuito. caro e vazio
Bar Century: Pra fechar a noite sem classe, cerveja a 3 dólares

 Amor Leve, Chico Buarque

*Sobre a lista: Dia desses publico aqui, mas são basicamente experiências, feiras de rua, trilhas, cafés, restaurantes, e bares... muitos deles (Salve Lonely Planet e TimeOut por achados menos turísticos e uma australiana querida que me fez um email gigante rechado de local experiences).