terça-feira, 7 de setembro de 2010

A arte de fazer negócio - parte I

Prometi no último post um empresário e negócio que me impressionaram como viajante, administradora, pessoa. Aí vai. 

"Negócio aqui é feito assim", "Todo o negócio gira em torno da mulher", "Meu segredo de negócio se esconde nesse canto aqui, ó", "O segredo está na compra" e "antes ser um pequeno patrão do que um grande empregado" são frases de um senhorzinho libanês em torno dos seus 70 anos, trajes simples, nariz de árabe (quando eu disse que era descendente de libanesa ele disse que meu nariz entregava... eu sempre me orgulhei do meu nariz pequeno e arrebitado do lado italiano... devo me preocupar?). Esse mesmo senhorzinho mora numa casa simples, guarda o fusca que ganhou pela performance de melhor vendedor do ano na sua época de "grande empregado" na rede Lojas Pernambucanas e diz que investimento hoje em dia é no setor imobiliário, onde deixa toda sua fortuna inestimada.

O negócio? Uma loja vende tudo: de lingerie sexy a roupas pra crente. De secador de cabelo a cachorrinho que mexe a cabeça em carro de taxista. De cobertor a tapetes persas. Quem é do interior sabe bem o tipo de loja que eu tô falando (aos guaratinguetaenses, a famosa "Casas Brasileiras" na praça de Guará).

 O segredo? Alguns segredos...

1) Segredo de gestão financeira: um crediário controlado ficha a ficha, nome a nome, tudo arquivado em ordem alfabética no papel. Parcelas a gosto do freguês. Sem juros. Taxa de inadimplência de 0,5% aa.  3 Cobradores educados vão à casa dos devedores conversar e renegociar a dívida. No limite, um advogado amigo do empresário é envolvido.

2) Segredo comercial: faturamento de 12 milhões/ano. 2 mil clientes passam pela loja de segunda a sábado (detalhe: 2 mil clientes num universo de 40 mil pessoas de população no município da Lapa). Vão pagar a parcela do mês e aproveitam pra mais uma comprinha. Segredinho 2: bagunça visual, tudo junto ao mesmo tempo agora. As peças não têm escala, não são dispostas por cores, setor, gênero. E vende, ô se vende!

3) Segredo de resultados: margem líquida de 40% (sim... 40%!). Preço de venda = preço de custo + 75%. A regra vale pra lingerie sexy, roupas de crente, secador de cabelo, cachorrinho que mexe a cabeça em carro de taxista, cobertor e tapete persa. Simples assim.

4) Segredo no processo de compra: A compradora é uma mulher "bem paga, porque funcionário bem pago e bem tratado faz a coisa funcionar. E compradora tem que ser mulher, "é a mulher que define o processo de compra". Sacadas como compras fora de época fazem ajudam no efeito margem descrito acima. 

Deixo de lado fatores culturais e econômicos da região que permitem tal sistema de negócio funcionar... Enxerguem a beleza desse negócio sem análises chatas, burocráticas e sem brilho. Me encanta. 

domingo, 5 de setembro de 2010

A arte do nomadismo sedentário

Queridos, interrompo minha saga Europa pra dividir minha experiência de fim de semana no interior do Paraná.

Antes de entrar no Paraná, esclareço: já voltei da Europa há 2 meses, e ainda não tive energia/coragem/determinação para escever sobre a viagem. É um misto de preguiça, "viver é melhor que sonhar ou reviver" e medo da viagem acabar (já falei sobre o processo pré, durante e pós viagem e essa é minha forma de prolongar os efeitos post trip. Minha viagem Europa se encerra no momento que eu derrubar a caneta e terminar meu album impresso viagens... metas pra setembro! Outubro tem viagem nova no schedule!).

De volta à Lapa. Vim pro Paraná pelos motivos menos viajantes: encontrar uma prima/madrinha grávida de gêmeos. A Fá é casada com o Milton, coronel do exército. Não sei se é o espírito aventureiro dos 2, as raízes do Milton (natural de El Salvador, filho de um coronel aposentado, professor e viajante até os dias de hoje com seus 90 e tantos anos), ou o desapego que ser um "nômade" do exército exige... Mas o casal tem aquela energia deliciosa de tornar cada refeição, conversa de bar, voltinha no quarteirão uma experiência e uma bela aula de vida... quase uma viagem! A casa deles tem marcas de todos os lugares que já passaram. China, Tailândia, Espanha, Equador, Ilha dos Marajós são alguns dos destinos exóticos que me encantam.

Apesar do nomadismo, aquela sensação de lar e amigos de uma vida inteira em cada cidadezinha ou grandes centros que eles passam. Uma árvore do cerrado na sala lembra o Mílton de boa parte da vida dele em Brasília. Os amigos e achados que encontram em cada um dos lugares que moram espelha a arte do nomadismo sedentário. E agradeço esse nomadismo sedentário. 


Graças a eles, descobri o cantinho mais carioca do Rio de Janeiro: Mureta da Urca - cerveja de garrada trincando, sardinha frita e a vista mais linda do Rio quando a tarde cai, sentado na mureta. Tem cena mais boêmia carioca? Graças a eles, meus irmãos descobriram o encanto pacato com ginga carioca de Niterói e elegeram a cidade pra morar. Graças a eles, conheci o charme da Lapa, um município escondidinho no interior paranaense e seu contexto histórico. Provei o melhor molho quatro queijos ao funghi que me recordo (arrisco dizer que foi o melhor restaurante italiano dos últimos tempos. Anotem aí: Barolo Trattoria em Curitiba. Peçam o soffiotti da casa com molho funghi). E finalmente, conheci um dos empresários mais sensacionais para uma administradora como eu, algumas vezes frustrada pelo jeito chato, burocrático e sem brilho como negócio é feito hoje em dia (aguardem próximo post: A arte de fazer negócio). 

Volto feliz e renovada. Depois de tantas artes... fecho com Mário Quintana e a verdadeira arte de viajar.


A verdadeira arte de viajar...
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!


                                                                                                 Mario Quintana