domingo, 28 de agosto de 2011

Angkor Wat em imagens

Mais do que mil palavras... 










quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Camboja: sobre justica e minas terrestres

Em sequencia ao ultimo post, mais detalhes sobre o passado (presente) sangrento de Camboja.


Sobre justica: Lembra de uma tal de ONU, Tribunal Internacional da Justica, Direitos Humanos, patati-patata que ja vigorava com forca total em meados de 70? Chuta quem representou a nacao perante ONU ate 1991? O proprio - Pol Pot. Com isso, a Humanidade so se deu conta do ocorrido em 1997, com uma carta do primeiro-ministro de Camboja pedindo auxilio e intervencao da ONU no julgamento dos lideres do Khmer Rouge. Do alto dos seus 80 anos, os 4 lideres sobreviventes aguardam, velhos e doentes, seu julgamento final. Pol Pot livrou-se da Justica em Terra - morreu em 1998 vitima de um ataque cardiaco. Foi queimado numa pilha de pneus velhos na mesma zona rural onde escravizou, torturou, assassinou milhares de cambojanos. 

Sobre minas terrestres: Nao bastasse o rastro de sangue deixado pelos anos Khmer Rouge, centenas de cambojanos seguem morrendo ano apos vitimas de minas terrrestres ainda ativas. Camboja eh a primeira no ranking de amputados/mortos por minas terrestres do mundo. Estima-se que 600 Km de territorio permaneca contaminado e que algo entre 6 a 10 milhoes de minas seguem ativas (isso numa populacao de 14 milhoes de pessoas... Facam a conta.). Claro que os soldados que implantaram as bombas nao tem registros passiveis de rastreio. Com isso, o pais tem o grande (e caro) desafio de eliminar as minas terrestres em sua totalidade ate 2019, conforme tratado com a ONU. Sabem as 3 criancas do post anterior que fizeram meu dia feliz? O pai perdeu as 2 pernas vitima de uma mina ativa nas redondezas de Phenon Phen e comecou um lindo projeto de arte aos desabilitados fisicamente. Com o lema de "We don't beg, we work", eles tentam reescrever essa historia  triste e sangrenta com o colorido da arte. Lindo de se ver.

domingo, 14 de agosto de 2011

O passado sangrento e recente de Camboja

35 anos se passaram e a marca de um dos genocidios mais crueis da Historia continua estampada nas ruas de Camboja: Criancas e adultos com membros amputados, cadeiras de rodas e muletas em excesso, o risco eminente de minas ativas nos campos de arroz e sitios arqueologicos, pobreza generalizada, demasiado pedido de esmola, historias tristes por tras de um sorriso timido e sofrido. 

Abril de 1975. Sob lideranca do ditador Pol Pot, o partido de esquerda Khmer Rouge toma o poder. Com pretextos marxista/maoista para os mais hediondos atos, o novo governo institui o comunismo, a destruicao em massa, o exterminio de uma nacao. A populacao da capital Phenon Phen foi arrastada ao campo, na tentativa "bem-sucedida" de uma sociedade (escrava) agraria voltada a plantacao de arroz. Fim do papel-moeda, do mercado livre, das praticas religiosas, das influencias estrangeiras. Escolas, hospitais, bancos, monumentos budistas destruidos. Minas instaladas ao longo do territorio cambojano. E finalmente, exterminio das classes opositoras. Leia-se minoritarias,  primordialmente classe intelectual (como impor ideiais aos que detem conhecimento?). Entre professores, diplomatas, monges, ministros, artistas, estrangeiros ou simples moradores da cidade grande, a matanca chegou a marca de 3 milhoes, algo em torno de 30% da populacao cambojana. Em termos relativos, nenhum outro ditador sanguinario conseguiu tal feito. Nem Hitler, nem Stalin, Pol Pot foi "o cara". 

O mergulho ao passado sangrento de Camboja comeca pelo Museu do Genocidio Tuol Sleng. O que era inicialmente uma escola, virou sede de interrogatorio, prisao e exterminio dos "opositores". A entrada ao complexo - na epoca chamado Security Office 21 (S-21) - ainda exibe a cartilha de seguranca em vigor no periodo sangrento. Frases como "While getting lashes of electrification you must not cry at all" nos lembram a razao de estarmos ali. É so o comeco. A cada sala de aula que se entra, fotografias de homens, mulheres, idosos, criancas, bebes que por ali passaram. Celas e solitarias adaptadas. Tela de arame enfarpado nos andares superiores para evitar o desesperado suicidio.  Instrumentos de tortura, descricao dos metodos de tortura, fotos de tortura.  E quem precisa de estimulos visuais quando cenas de um passado recente e brutal insistem em pipocar na mente e lhe embrulhar o estomago? O ar fica denso e a tristeza é palpavel. 




A 15 Km dali, um novo cenario de horror: o campo de concentracao Choeung Ek, para onde eram encaminhados os prisioneiros da S-21 rumo a morte. De joelhos, maos amarradas, olhos tapados, recebiam um golpe quase fatal na nuca, muitas vezes seguido de decaptacao com um facao. Os oficiais sequer aguardavam o padecer final e jogavam centenas de corpos, um sobre o outro, em grandes valas cavadas no chao. As escavacoes, analises dos ossos e reconstituicao dos fatos tece um cenario ainda mais chocante: Marcas de espada e objetos pontiagudos nos cranios. Corpos de mulheres decaptadas segurando seus bebes. Sepulturas coberta de corpos de criancas. Bebes assassinados por arremesso nas arvores. 

Nem a belissima paisagem verde cambojana apaga a lembranca de quanto sangue foi derramado sobre (e sob) aquele solo. Mais do que uma homenagem ao que sofreram e padeceram sob o poder Khmer Rouge, a pilha de ossos na torre tem o importante papel de conscientizar o povo cambojano do ocorrido. Criancas, jovens e residentes do campo sao alvo de um projeto cujo o objetivo é evitar que novos golpes tragam de volta o sabor amargo de um passado recente.


Ainda as margens dessa historia sangrenta e seus resquicios (familias desfeitas, pobreza generalizada, centenas de mortes ao ano por minas ativas), o povo cambojano segue com otimismo, sorriso no rosto, estado de espirito intacto. Uma licao de vida. Fecho meu dia com uma feliz ironia: Sob as mesmas arvores contra as quais eram lancados bebes, hoje brincam 3 criancas com um sorriso no rosto capaz de apagar qualquer tristeza do meu dia. Impossivel nao se emocionar.