sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Desabafo: preguiça política com final feliz (?)

Apesar de uma queda por temas políticos, econômicos e sociais, confesso que essa disputa eleitoral me causou uma imensa “preguiça política”.

Preguiça de presidenciáveis discutindo um episódio de bolinha de papel em pleno horário político, enquanto pouco se falava sobre propostas de governo que não fossem ferramenta rumo à vitória (a polêmica Bolsa Família foi a principal delas, vide post. E não, não me refiro à força PT no Nordeste. Alguém explica a proposta do Serra de dobrar o Bolsa Família nos últimos minutos do 2º tempo?).

Preguiça do atual presidente esquecer que seu mandato se estende até o dia 31 de dezembro desse ano e que até lá, seu cargo lhe exige gestão ativa e comportamento para tal, ainda numa disputa  política em que pretende eleger sua apadrinhada. 

Preguiça por presenciar atos e declarações que põem em dúvida a absoluta liberdade de imprensa, desrespeitando a história de democracia do país. Não bastasse o atual governo apostar em mecanismos de controle aos veículos de comunicação - “observatório de conteúdos midiáticos” (!) – tivemos o desprazer de presenciar o atual presidente perder a elegância e o bom senso ao acusar a imprensa de golpista e mentirosa. Na outra ponta, o mesmo jornal que se declara “há 461 dias sob censura”, demite a Maria Rita Khel pelo belíssimo artigo “Dois Pesos...” que coloca abaixo a teoria de que os pobres do Nordeste são ignorantes demais e seduzidos pelo “bolsa-esmola” pra tomar uma decisão de voto pela democracia do país. "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", disse a nova presidenta. Poético, não?! Assim espero que seja no próximo governo.

Preguiça da candidata à presidência eleita ter cedido a discursos prontos e marketeiros e pouco ter mostrado sua cara, postura e estilo de gestão (Confesso que me impressionei com o posicionamento dela nesses últimos 5 dias. Mais serena, assertiva e sem desviar de assuntos polêmicos como vimos na campanha. Espero, de coração, me surpreender positivamente. A CPMF tá aí pra vermos até onde não passa de discurso...). 

Preguiça de resultado de pesquisas eleitorais duvidosos.

Preguiça dos votos de protesto que colocaram o Tiririca no governo com mais de um milhão de votos.

Preguiça da abstenção dos eleitores (e aqui, faço minha mea culpa... Em meio a tanta preguiça e decepção, confesso que considerei dar meu voto à Iemanjá no 1º turno, com um fim de semana de sol na praia. Voltei à razão ou à esperança antes disso...)

Preguiça “político/religiosa”: De um lado, a Igreja liderando um movimento anti-Dilma; no outro, intelectuais e artistas que eu admirava pela coerência, me decepcionaram ao evocar entidades divinas num movimento Pró-Dilma. Lamentável.

E aos meus caros amigos militantes de esquerda... E aos meus admiráveis amigos intelectuais de direita... Me perdoem, mas preguiça da guerra armada que virou twitter, facebook, e minha caixa de email lotada de exageros, ataques e falta de bom senso. Por um lado, foi quase bonito ver um público novo e cheio de energia lutar por suas opiniões, partidos, ideais. Há tempo não via esse engajamento e acredito que os canais de mídia e acesso à informação promoveram esse debate. Por outro lado, vi pouco material sério e argumentos coerentes. Enquanto o que me agrada são discussões conceituais, filosóficas, partidárias e posicionamentos sérios e ponderados, o que mais vi  foi fanatismo insensato dos 2 lados, focado no ataque à oposição, no exato mesmo padrão que se estabeleceu na disputa Dilma x Serra.

Ainda assim, preciso agradecer a enxurrada de emails, posts e tweets. Me muniram de informações (não sei o quanto delas verdadeiras, mas tive acesso a um mundo de informações. E não deixei de ler um email sequer, por mais absurdo e incoerente que julgasse) e conhecimento necessário pra formar uma opinião coerente com minha bagagem de conhecimento, valores e razão. Ainda que tenha me rendido preguiça... Muita preguiça!

Numa eleição que parecia sem final feliz (e dá pra se falar em final feliz?!), alguns fatos, no entanto, retomaram meu engajamento político. Tive algumas alegrias, um fundo de esperança e um tapa na cara. O sucesso absoluto da Marina no 1º turno, em resposta a uma luta de ética política que já nem lembrávamos que existe e a esperança de uma oposição liderada por ela para as eleições 2014. O senador eleito Aloysio ter derrubado o candidato Netinho, nos livrando de um Senado composto exclusivamente por representantes no mínimo lamentáveis e despreparados para o cargo – Marta Suplicy e Netinho. Os 4 milhões de votos do excelente candidato ao Senado, Ricardo Young do PV. A volta da discussão da Ficha Limpa, que parecia abandonada  face a tantos escândalos e outras mesquinharias nessa corrida eleitoral. O protesto a favor da democracia liderado pelo fundador do PT, Hélio Bicudo, trouxe à tona questões que viraram tão naturais no atual governo, que já nem mais reconhecíamos como absurdo (minha parte predileta: “É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais”. Lindo!).

E de tapa na cara... Bem, fica por conta do elo perdido entre esquerda e direita, da dúvida até onde vigora Direitos Humanos num sistema fajuto e imoral alimentado por votos, de um modelo de impunidade e corrupção ao qual tornamo-nos acostumados. Tudo isso perfeitamente ilustrado na obra prima Tropa de Elite 2. Tapa na cara, nos faz pensar... Me fez pensar. Com coragem e coerência. E por isso, deixo de lado a preguiça política e o colorido do meu blog de experiências de viagens deliciosas pra me posicionar sobre um assunto denso e complexo, que me tira da zona de conforto. 

Aguardem dossiê Tropa de Elite. 

2 comentários:

  1. Ótimo, Lili! Também tô exausta disso tudo... apesar de confessar ter sido uma das "malas de facebook" rsrs... mas, apesar de estabanado, achei um bom começo para uma sociedade que não debatia política há muito tempo..

    A facilidade para o compartilhamento de informação que temos hoje é uma ferramenta valiosíssima, que começamos, ainda estabanados e emotivos, a utilizar. Mas acredito que seja um começo =)

    Cada vez mais, espero ver nas redes sociais debates com conteúdo e respeito mútuo, coisa que também vi muito pouco nestas últimas eleições...

    Esses dias eu tava tão envolvida com isso tudo que cheguei a sonhar com o Lula, acredita? hahahah... acordei xingando, prometendo que ia tocar o foda-se... mas acabei mudando de idéia: acho que temos que debater política sempre, compartilhar informações sempre. Dando exemplo de respeito um pelo outro, sem fanatismos nem preconceitos.. Só assim vamos nos fortalecer frente às injustiças e corrupções a que assistimos todos os dias neste país...

    Beijos Lili, ADORO seus posts políticos =)

    ResponderExcluir
  2. Li, seus comentários transformam meus questionamentos individuais num debate justo. Obrigada.


    Nossa geração (soa tão revista "Caros amigos" falar nossa geração, né? rs) deixou de discutir política sob a prerrogativa de que trata-se de um sistema falido e invencível. Procuramos então novas bandeiras para lidar com uma realidade que incomoda: práticas e movimentos ambientais, participação de projetos sociais, engajamento pela paz mundial, luta contra a fome, 3o setor, gestão empresarial sustentável). Pelo visto nada disso basta se não nos posicionarmos frente a um sistema que é definido em primeira instância pelo voto. E eu concordo e reconheço a beleza dessa retomada do engajamento e debate político. E as redes sociais e outras mídias foram o pano de fundo perfeito para essa retomada.

    Isso posto, minha decepção fica por conta da pobreza dos debates, num perfeito paralelo ao que vimos na dispusta presidencial Dilma x Serra. Não bastassem 2 candidatos ao cargo discutindo assuntos irrelevantes para a tomada de decisão do candidato, tivemos uma extensão disso nos militantes de esquerda e direita. Do lado Pró Dilma, queria ter ouvido mais de sua força e luta pela democracia e justiça social, do benefício do seu olhar de economista sobre um governo que ainda tem falhas substanciais em seu modelo (e seu posicionamento nesses últimos dias mostrou coerência - de novo, medo da CPMF colocar por água tudo que eu to falando). Dos militantes Pró Serra, da sua trajetória no movimento estudantil baseado em fundamentos teóricos, do seu engajamento político orientado por um discernimento que só os livros trazem. Como tem experiência na gestão, que destacassem seus grandes feitos e até suas limitações. Mas sabe o mais ouvi falar sobre cada um deles? Dilma guerrilheira dos Pró Serra, e Serra Zé Pedágio dos Pró Dilma.

    Perdoe(m)-me se me coloco numa posição de superioridade e imparcialidade a esse tema. Faz parte da minha natureza avaliar os 2 lados incessantemente. Tão incessantemente, que torna-se difícil tomar decisões, lados, partidos.

    É fácil sentar e escrever com tanta clareza e imparcialidade os 2 lados da moeda, uma vez que eu sou seduzida e repelida por ambos lados. Fico na minha "Suíça confortável"e peço que o dialogo político continue...

    Sobre seu sonho com o Lula... MEU DEUS! Sera q Freud explica?! Talvez seja um recado divino pra voê desacelerar essa sua luta! Eu te deixo um recado terrestre: Continue nessa luta!

    bjos! Obrigada pela riqueza da discussão mais uma vez

    ResponderExcluir