sábado, 20 de novembro de 2010

Dublin: all about pints, folk music and Paul McCartney

 Dublin é dessas cidades que parecem tiradas de outro século, outra dimensão, com cenário e personagens de desenho animado adulto: ruas de paralelepípedos cheias de becos nada charmosos, músicos e artistas nada convencionais, bêbados cantando pelas ruas abraçados no melhor estilo "fulano é um bom companheiro", senhorzinhos ruivos, barbudos e atarracados caídos bêbados pelos cantos do Temple Bar (o mais boêmio dos bairros, com o mais famoso dos pubs, também chamado Temple Bar).

Nada como uma cidade regada a Guinness pra fazer o povo feliz: os irlandeses têm uma alegria de viver nata e uma sede por álcool que nem meus anos de boteco me permitiram acompanhar (depois de 2 semanas de pints e mais pints de cerveja em UK, não podia fazer feio na capital da boêmia alcoólica). O circuito pubs foi intenso. Coisa de 5, 6, 7 pubs em um dia (7 foi o recorde diário). Na companhia de um novo casal de amigos brasileiros que moram em Dublin, desbravamos o melhor dos pubs dubliners: o pub mais antigo, o mais turístico, o mais local frequentado por velhinhos irlandeses... Tudo é desculpa pra conhecer um pub novo. Liffey river, St Patrick's Cathedral, Trinity College e outros pontos turísticos eram a deixa pra "Tem um pub aqui do lado que você precisa conhecer!". E assim fui, me embriagando ao som de um delicioso folk irlandês que toca em 10 de cada 10 pubs.


E no meio de tanto alcool e folk music, tive uma experiência que extrapola a categoria "melhores momentos de uma viagem" e entra pra listinha "melhores momentos de uma vida". Tive a sorte de pisar em solo dubliner a tempo do show do Paul McCartney (esse mesmo "Up and Coming Tour" que chega amanhã à São Paulo. Com a diferença que paguei apenas 70 EUR no dia do show, cheguei meia hora antes e fiquei bem na frente do palco. Duvido que minha experiência amanhã no Morumbi, ainda que muito especial, se equipare à simplicidade de ir a um bom show em terras gringas). 

Paul McCartney, RDS Arena, Dublin (viram que pertinho do palco?)

O show foi de uma intensidade absoluta: o sangue irlandês do Paul, a boêmia e riqueza musical do povo irlandês, o dia cinza, e o fato de estar sozinha fizeram do show a once in a lifetime experience. Do outro lado do mundo, sozinha, ouvindo versos de musicalidade pura e sabedoria de um Sir beatle. Naquele momento acreditei nos sentimentos mais puros da humanidade. Eu estava completamente apaixonada pela vida, pela minha família, meus amigos, pelo amor, pelo Brasil, pelo mundo, pela paz mundial. Tudo fazia sentido naquele momento. E eu fui feliz, completamente feliz nessas 3hs de show. 

Ao ouvir Get back to where you once belonged, impossível não resgatar lembranças de infância com o Blue Album Remastered que eu ouvia quando moramos em Cardiff (meus pais não têm metade da paixão por música que eu desejaria, mas aos 8 anos de idade eu ouvia esse CD dos Beatles e Saltimbancos. Não posso reclamar, eles me apresentaram Beatles e Chico Buarque, duas das minhas grandes paixões musicais hoje. Quer educação musical melhor que essa?). E pensar que eles viveram essa mesma experiência, também sozinhos há 15 anos atrás em Londres (um dia foi meu pai, dia seguinte minha mãe, pois não tinham com quem deixar os filhos pequenos).

E numa sequência de belíssimas canções sobre paz, amor fraterno e justiça social, senti as dores de uma época Beatles que eu não era nem nascida e acreditei no amor ao próximo e na paz mundial. Quando o estádio cantava em coro All we are saying, is give peace a chance parecia que o mundo tinha parado e que a paz deixava, naquele momento, de ser ideologia. 

Frente a tantas dúvidas que eu tinha (tenho) sobre escolhas pessoais, amorosas, profissionais, filosóficas, senti calma a medida que o Paul dedilhava e cantava Let it be ("And when the broken hearted people, living in the world agree, there will be an answer, let it be"). 

E impossível falar de Beatles sem falar do amor romântico. Era dia dos namorados, eu tava apaixonada na época e no meio de tantas palavras lindas, dividi Hey Jude por celular com uma pessoa especial que tinha ficado no Brasil.  

O show fecha com a mesma canção que fecha meu álbum predileto dos Beatles, Abbey Road, que por sua vez foi a última música (do último álbum) gravada em estúdio com os 4 Beatles reunidos. Apropriado, não? Ao som da linda e simples mensagem de amor universal, fecho minha experiência dubliner: And in the end, the love you take is equal to the love you make

PS: Uma experiência que era pra ter sido a bordo de um carro, visual campestre com um verde escancarado da região de Wicklow Mountains e Galway no interior e  costa irlandesa, teve mudanças de rumo algumas semanas antes da viagem. Mudei o roteiro, mudei a companhia, mudei os sentimentos. E foi um dos momentos mais ricos da viagem. E manda uma Guinness pra brindar os  contratempos e mudanças de percurso que enriquecem viagens e a vida.
 

4 comentários:

  1. Lili e seus textos poéticos, cheios de sentimentos e emoções.

    Gosto de ler seus textos pq reaviva minhas memórias, me transporta para os mesmos lugares que voce descreve e eu relembro todas as minhas historias e experiencias.

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  2. ;) Eu não resisto à poesia das emoções. rs. E Beatles é emoção pura, logo...

    Que bom, querido. A idéia é essa. Que os posts transportem outros viajantes como você de volta ao prazer das viagens. Relaxa q ainda vou pra muito lugar q vc foi e eu ainda nao pisei. Aguarde relatos e novas emoções

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  3. Fantástico Lili! Fiquei com vontade de conhecer Dublin!!
    Ontem descobri que minha mãe já foi no show do Paul! Acredita? Meu pai deu de presente pra ela! Bom mesmo ter sido criada com boas doses de música de verdade!
    Beijos!!

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  4. Mari, aos boêmios, recomendo Dublin. Melhor do que cerveja de garrafa no Tribunal ;) (se bem q voltei da Europa doida por uma Original gelada!).

    Aiii! que demais que sua mae ja foi! Adorei. E q os nossos filhos ouçam Beatles e Chico.

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