quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Volta ao mundo e a decisão de partir

A decisão da viagem volta ao mundo não soou estranha aos ouvidos dos meus pares. Não é novidade meu desejo de viajar, minha pressa em conhecer o mundo ou minha coragem e entrega quando o assunto é viagem. Ainda assim. Não acordei da noite pro dia com coragem, dinheiro e decisão pronta para interromper uma carreira, deixar relacionamentos pra trás, abandonar bens materiais e partir pra uma viagem pelo simples prazer de viajar. Foi um processo. Processo, esse, que durou 1 ano e meio, envolveu 2 viagens internacionais  e a vida que se passou aqui no Brasil (e passou feliz) durante essas duas viagens.

Divido, a seguir, esse exercício de “should I stay or should I go”, cuja a resposta vocês já conhecem: GO!!!

Australia, julho de 2009. Minha viagem volta ao mundo começa aqui. Não sei se foi o clima, a beleza natural, os viajantes que encontrei no caminho, as paixões que acumulei. Mas Australia me resgatou um desejo de explorar o mundo, até então guardado, e a partir daí vivi o período mais vivo, intenso, completo da minha vida. Tornei-me mais interessada, mais interessante, mais intensa, mais ousada, mais feliz. E face a tamanho poder e desapego, meus pilares de construção de vida, carreira, amor deixaram de fazer sentido e fui tomada por uma sequência de palpitações, novos desejos e dúvidas... quantas dúvidas! Ora queria sair do País para estudar, ora para trabalhar, ora para atuar numa ONG, ora não tinha mais forças e queria simplesmente ir.

Frente a tantas dúvidas, vem Europa e tudo que ela trouxe consigo e me deu de volta a calma: voltei de lá jurando de pé junto que qualquer projeto no exterior fora deixado de lado nesse momento em detrimento de uma vida completa no Brasil. Revisitei minha escolha de 8 anos atrás por São Paulo como cidade pra estudar, trabalhar e construir uma vida, um apartamento, um ciclo de amizade dignos de chamar São Paulo de lar. E por meses me apeguei a essa sensação deliciosa de estar onde queria estar, organizando o que estava fora do lugar. E organizei a vida: Questionei minha carreira, considerei mudar de área, retomei a motivação. Investi no meu apartamento, cobri as paredes de fotos, as estantes de livros, guias, mapas e lembranças acumuladas ao longo das viagens. Procurei mais simplicidade e menos ostentação no meu estilo de vida e São Paulo me surpreendeu com cinemas de bairro, botecos escondidos, pessoas evoluídas. Fui mais à praia nos fins de semana pra resgatar minha energia e apesar das poucas idas ao interior, estive mais próxima da minha família do que nunca. Procurei auto-conhecimento e evolução espiritual através de terapia, meditação e respiração (Em tempo: não, não virei neo-zen. As palpitações continuam, continuo freqüentadora assídua de botecos e festas que acabam às 11 da manhã, continuo administrando minhas ressacas com Coca-cola normal (!) e banho gelado e o prazer pela carne – em todos sentidos – permanece voraz).

Quando parecia que eu finalmente tinha retomado a construção de uma vida aqui.... O travel bug volta a me afligir. E daí caiu minha ficha: Não importa o quão completa eu seja no amor, na carreira, na família, no meu estilo de vida... Eu sempre vou olhar pra trás ou pra frente procurando essa viagem. Hoje escolho uma viagem completa por  uma vida de volta ao Brasil completa. E nesse eterno paradoxo, precisei querer ficar pra conseguir partir.

Hoje enxergo a riqueza desse processo na minha decisão e o poder do tempo na maturidade da minha face viajante. Precisei desse tempo para me munir de cultura e conhecimento. Para alimentar minha paixão por viagens. Para experimentar os mais diversos efeitos que uma viagem desperta na alma, corpo, mente e coração. Para conhecer viajantes que me inspiraram. Para desapegar do planejamento e entender a beleza do inesperado. Precisei entender que meu apetite por viagens deriva do movimento. Não quero morar, não quero estudar, não quero trabalhar em nenhum desses lugares que me encantam mundo afora (Por  isso uma volta ao mundo e não uma pós, uma oportunidade profissional, meses estudando um nova língua ou a culinária local). Precisei, ainda, entender e viver o desapego e o apego. Precisei do desapego que Australia me causou, e da retomada ao apego que Europa me despertou. Australia me puxou pro mundo, Europa me trouxe de volta para casa. Precisei dos meus amores no meio do caminho. Precisei das paixões arrebatadoras da Australia. Precisei viver um relacionamento no Brasil semanas antes de partir para a Europa para entender que o apego ainda me cai bem (e me faz bem). E precisei perceber que o amor às vezes cessa. E que só livre de afetações amorosas eu posso entender minhas mais puras vontades, necessidades e anseios.

Continuo cheia de palpitações e questionamentos. E ainda bem! Não é a minha vida perfeita e equilibrada que me joga no mundo. É minha vida caótica, cheia de pressa, cheia de sede, completamente impulsiva que me leva a tomar uma decisão dessa. Mas essa decisão não foi impulsiva. Foi ensaiada "n" vezes ao longo desse processo. Mas só agora tenho a clareza para essa decisão e a maturidade para essa viagem. 
Parto com pressa do novo, do desconhecido, do inexplicável. E daqui há 1 ano volto para o conforto da minha vida no Brasil. Pelo menos, that’s the plan. Se é que possível ter planos sobre uma viagem desse teor, que toca, muda, transforma. E que venha a partida, a volta e o inesperado. Partiu! =)

2 comentários:

  1. Minha querida amiga, que lindo texto, que inspirador...Fico tão contente em ler tudo isso porque é como se todas as nossas conversas tivessem fazendo um total sentido. Seu espírito viajante me fascina, me faz ter vontade de viver mais e mais...E eu revivo uma total sintonia no sentido de "busca" que temos tão parecido. A gente quer sim amar e ser amada, ajudar e ser ajudada, fazer da nossa existência algo verdadeiro! Agradeço vc por tanta inspiração, que também me fez ir atrás de um sonho, mas principalmente de resgatar meus questionamentos e tentar a cada dia me conhecer mais...Que 2011 seja inesquecível, que você sinta tudo o que puder sentir, e seja para sempre nossa Julia Roberts em Eat, Pray, Love...Mas com o jeito único e especial que só a nossa Lili´s tem...Beijos PS: E com mais sorte, nos vemos em Londres...

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