Apesar de uma queda por temas políticos, econômicos e sociais, confesso que essa disputa eleitoral me causou uma imensa “preguiça política”.
Preguiça de presidenciáveis discutindo um episódio de bolinha de papel em pleno horário político, enquanto pouco se falava sobre propostas de governo que não fossem ferramenta rumo à vitória (a polêmica Bolsa Família foi a principal delas, vide post. E não, não me refiro à força PT no Nordeste. Alguém explica a proposta do Serra de dobrar o Bolsa Família nos últimos minutos do 2º tempo?).
Preguiça do atual presidente esquecer que seu mandato se estende até o dia 31 de dezembro desse ano e que até lá, seu cargo lhe exige gestão ativa e comportamento para tal, ainda numa disputa política em que pretende eleger sua apadrinhada.
Preguiça por presenciar atos e declarações que põem em dúvida a absoluta liberdade de imprensa, desrespeitando a história de democracia do país. Não bastasse o atual governo apostar em mecanismos de controle aos veículos de comunicação - “observatório de conteúdos midiáticos” (!) – tivemos o desprazer de presenciar o atual presidente perder a elegância e o bom senso ao acusar a imprensa de golpista e mentirosa. Na outra ponta, o mesmo jornal que se declara “há 461 dias sob censura”, demite a Maria Rita Khel pelo belíssimo artigo “Dois Pesos...” que coloca abaixo a teoria de que os pobres do Nordeste são ignorantes demais e seduzidos pelo “bolsa-esmola” pra tomar uma decisão de voto pela democracia do país. "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", disse a nova presidenta. Poético, não?! Assim espero que seja no próximo governo.
Preguiça da candidata à presidência eleita ter cedido a discursos prontos e marketeiros e pouco ter mostrado sua cara, postura e estilo de gestão (Confesso que me impressionei com o posicionamento dela nesses últimos 5 dias. Mais serena, assertiva e sem desviar de assuntos polêmicos como vimos na campanha. Espero, de coração, me surpreender positivamente. A CPMF tá aí pra vermos até onde não passa de discurso...).
Preguiça de resultado de pesquisas eleitorais duvidosos.
Preguiça dos votos de protesto que colocaram o Tiririca no governo com mais de um milhão de votos.
Preguiça da abstenção dos eleitores (e aqui, faço minha mea culpa... Em meio a tanta preguiça e decepção, confesso que considerei dar meu voto à Iemanjá no 1º turno, com um fim de semana de sol na praia. Voltei à razão ou à esperança antes disso...)
Preguiça “político/religiosa”: De um lado, a Igreja liderando um movimento anti-Dilma; no outro, intelectuais e artistas que eu admirava pela coerência, me decepcionaram ao evocar entidades divinas num movimento Pró-Dilma. Lamentável.
E aos meus caros amigos militantes de esquerda... E aos meus admiráveis amigos intelectuais de direita... Me perdoem, mas preguiça da guerra armada que virou twitter, facebook, e minha caixa de email lotada de exageros, ataques e falta de bom senso. Por um lado, foi quase bonito ver um público novo e cheio de energia lutar por suas opiniões, partidos, ideais. Há tempo não via esse engajamento e acredito que os canais de mídia e acesso à informação promoveram esse debate. Por outro lado, vi pouco material sério e argumentos coerentes. Enquanto o que me agrada são discussões conceituais, filosóficas, partidárias e posicionamentos sérios e ponderados, o que mais vi foi fanatismo insensato dos 2 lados, focado no ataque à oposição, no exato mesmo padrão que se estabeleceu na disputa Dilma x Serra.
Ainda assim, preciso agradecer a enxurrada de emails, posts e tweets. Me muniram de informações (não sei o quanto delas verdadeiras, mas tive acesso a um mundo de informações. E não deixei de ler um email sequer, por mais absurdo e incoerente que julgasse) e conhecimento necessário pra formar uma opinião coerente com minha bagagem de conhecimento, valores e razão. Ainda que tenha me rendido preguiça... Muita preguiça!
Numa eleição que parecia sem final feliz (e dá pra se falar em final feliz?!), alguns fatos, no entanto, retomaram meu engajamento político. Tive algumas alegrias, um fundo de esperança e um tapa na cara. O sucesso absoluto da Marina no 1º turno, em resposta a uma luta de ética política que já nem lembrávamos que existe e a esperança de uma oposição liderada por ela para as eleições 2014. O senador eleito Aloysio ter derrubado o candidato Netinho, nos livrando de um Senado composto exclusivamente por representantes no mínimo lamentáveis e despreparados para o cargo – Marta Suplicy e Netinho. Os 4 milhões de votos do excelente candidato ao Senado, Ricardo Young do PV. A volta da discussão da Ficha Limpa, que parecia abandonada face a tantos escândalos e outras mesquinharias nessa corrida eleitoral. O protesto a favor da democracia liderado pelo fundador do PT, Hélio Bicudo, trouxe à tona questões que viraram tão naturais no atual governo, que já nem mais reconhecíamos como absurdo (minha parte predileta: “É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais”. Lindo!).
E de tapa na cara... Bem, fica por conta do elo perdido entre esquerda e direita, da dúvida até onde vigora Direitos Humanos num sistema fajuto e imoral alimentado por votos, de um modelo de impunidade e corrupção ao qual tornamo-nos acostumados. Tudo isso perfeitamente ilustrado na obra prima Tropa de Elite 2. Tapa na cara, nos faz pensar... Me fez pensar. Com coragem e coerência. E por isso, deixo de lado a preguiça política e o colorido do meu blog de experiências de viagens deliciosas pra me posicionar sobre um assunto denso e complexo, que me tira da zona de conforto.
Aguardem dossiê Tropa de Elite.