domingo, 20 de fevereiro de 2011

Trés luxe: Côte D'azur

Seguimos de carro rumo ao luxo da Riviera Francesa. E preciso admitir: foi difícil me desconectar dos encantos bucólicos de Provence e ceder à afetação de Côte D'azur. Não gostei. Entendam, enquanto em Provence participa-se intimamente das essências, sabores, cultura da região, em Côte D'azur você assiste a tudo de camarote, é mero espectador daquele desfile de barcos de luxo pra lá do porto. Pro lado de cá, um turismo caro, afetado, lotado de turistas, repleto de emergentes. Nada contra os endinheirados, mas numa tentativa de turismo high/low (mistura de achados BBB com alguns eventuais luxos), a experiência ali não foi nem de longe meu paraíso. E finalmente, trânsito... quanto trânsito. Cadê as estradas de terra de Provence sem uma alma viva pra pedir informação?

Isto esclarecido, preciso admitir: o azul petróleo das águas mediterrâneas é lindo de doer. O contraste dos guarda-sóis listrados fincados nas areias de pedrinhas e as espreguiçadeiras de  couro branco são puro luxo. Os barcos atracados nos portos ao longo da Riviera Francesa são magníficos, grandiosos. E até um local afetado e invadido por turistas como esse, reserva alguns achados como a charmosa Cassis.  

Uma manhã de trânsito de cidade grande em Marseille... 
Porto de Marseille
Congestionamento de barcos, carros, turistas...

Uma estrada com cenários de cores gritantes...
A caminho de Cassis, a periferia colorida de Marseille constrasta com o azul petróleo do Mediterrâneo
E não é que de longe a Riviera Francesa é belíssima?

Uma tarde na charmosa e livre de afetação, Cassis...
Para almoçar, tomar um gelatto, um vinho rosé com vista para um charmoso porto
Um restaurante colorido (e caro) complementam o charme da cidade no meio dos calanques

Uma festa na madrugada de Toulon abre a temporada de Verão...






Um dia em St. Tropez e uma coca-cola a 10 EUR...


E uma parada na vinicula para comprar vinho rosé de St. Tropez...



O luxo demodê da capital do festival do cinema, Cannes, fica por conta de cinquentonas de botox, topless e câncer de pele iminente...
Cannes: sem graça, insosso
cinquentonas de topless
Perdoem-me pela indigestão. Nem tudo é luxo em Côte D'azur.

Um dia de gastronomia, cultura e arquitetura bela em Nice encerra a viagem de carro pela Riviera Francesa.
Guarda-sóis azul e branco: emblema de Côte D'azul
Aluguel da espreguiçadeira? 20 EUR
uma bela paella nos restaurantes do centro gastronômico em forma de feira para os humildes
Capital da cultura e arte da região
Fecho a viagem pela luxo afetação da Riviera Francesa com uma dica que se estende a qualquer canto do mundo: troquem os hotéis, hostels, aluguel de casais por uma experiência de guesthouse, hospedagem na casa de locais. Quer idéia melhor para fechar experiência francesa do que uma hospedagem num apartamento tipicamente francês de uma típica francesa? Na nossa última noite de Nice, o guesthouse escolhido foi o Chez Brigitte Guesthouse, da francesíssima Madame Brigitte. Após dias de zero experiência, fechamos assim nossos dias de carro pelo sul da França. 

Rumo ao aeroporto de Marseille, próxima parada Barcelona. Au Revoir, France. ¡Hola, España!

Pelas estradas de Provence, parte 5: finalement, les champs de lavande

Um pouco sobre minha paixão por campos de lavanda. Minha viagem foi estrategicamente agendada para junho com o intuito de encontrar os campos de lavanda forrados de variações de tons de roxo. A temporada começa em meados de junho e se estende ao início de agosto, época da colheita. No resto do ano, tudo que se vê são campos secos ou verdes. Claramente não era essa a intenção. Ainda sobre a obsessão lavandas, entendam (minha amiga suíça não entendia...): Não haveria razão em pisar em terras provençais sem sentir o aroma das lavandas, sem percorrer os campos simetricamente cortados, sem admirar aquele cartão postal em forma de flores. 

Isso posto, a caça aos campos de lavanda continua. Após algumas horas de estrada e paradas deliciosas nos pequenos vilarejos a caminho, de longe grandes campos de lavanda começam a pipocar nos vales da região de Gordes. Do alto se avista uma imensidão roxa no meio do verde. Achamos os campos de lavanda!

Campos de lavanda avistados do alto do Vale da região de Gordes
Não tão rápido assim... Me livrei dos guias, GPS ou qualquer informação sobre como chegar nos cartões postais cobertos de lavanda. Fui na raça. E agora reconheço que, não fosse uma amiga suíça french-speaker ao meu lado, grandes chances de ter chego até ali e não achar um campo de lavanda sequer no meio daquele labirinto de estradas de terra. 

Paradas para informações em propriedades rurais particulares nos deixaram confusas (Minha amiga suíça me traduzia o que ouvia de cada um dos fazendeiros, trabalhadores das lavouras, caminhoneiros). Alguns diziam que não era época de campos floridos, outros que estávamos há algumas horas de distância (e a noite ameaçava cair dentro de poucas horas). Alguns diziam à esquerda, outros à direita. E finalmente um caminhão de flores nos guiou até o campo de lavanda mais próximo. 

Finalement, les champs de lavande! Lá estava ele... Numa pequena propriedade rural, lavandas a perder de vista. Simetricamente posicionadas, cheirosas, de um colorido roxo lindo. 
finalement, les champs de lavande!
Cor, aroma e textura nos envolvem nesse cenário bucólico, campestre, provençal. E assim nos entregamos aos prazes sensoriais que essa cena de cartão postal de Provence desperta. 




Minhas lembranças dos campos de lavanda provençal são mantidas num potinho de cristal com o que restou das lavandas já secas, colhidas do pé nesse belo dia. E aquele aroma fresco-adocicado me resgata para esse momento de felicidade absoluta.

Pelas estradas de Provence, parte 4: um achado chamado Loumarin

Pé na estrada rumo aos campos de lavanda nos arredores de Gordes e Apt. Mas como o trajeto em si já é uma viagem... um achado no meio do caminho chamado Loumarin. 

Vilarejo de construções medievais cobertos por heras  em tons de verde contranstam com o azul do céu. Ruas estreitas escondem fontes, cafés, restaurantes, galerias, lojas de decoração. É para se perder e perder a hora entre uma ruela e outra. 
fachadas gastas e construções cobertas de heras
lifestyle provençal se faz presente nos menores detalhes
galerias contemporâneas em construções do século passado
combinação perfeita de luzes e cores
lojas charmosas misturam decoração, moda e cultura




Pausa para prazeres gastronômicos da região num dos diversos cafés com mesas ao livre. Melão da estação vindo direto de Cavaillon (vilarejo próximo famoso pelo cheiro delicioso que as plantações de melões espalham pela cidade). Vinho rosé da vizinha de estado, St. Tropez. De um lado queijo chévre fresco, de outro queijo Reblochon direto dos Alpes. E no meio dessas delícias, uma geléia azeda de apricot. Inexplicável. Indescritível. Inesquecível.
prazeres gastronômicos da região

E falando em achados e prazeres gastronômicos... Uma epicerie (famosa mercearia) chamada La Maison d'Ingrid. Atendida pela própria (Ingrid), perdi algumas horas provando  e comprando cada azeite puríssimo, trufas negras da região, queijos, terrines, compotas de frutas da época... 
La Maison d'Ingrid ...
... e "a" Ingrid.
Ela apaixonada pelo Brasil, eu pela França.  Trocamos segredos gastronômicos, achados de viagem (eu entreguei segredos do Brasil, ela da França), até histórias de vida. E face a uma intimidade que jamais ousaria antever com uma francesa, um convite de uma temporada trabalhando em sua loja... Ah, como desejei largar tudo e me entregar àquele mundo provençal. Confesso que permanece nos meus planos e na minha caixinha viagens o cartão com seu contato e o sonho de uma vida provençal. Um dia volto à Loumarin sem passagem de volta. Um dia...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pelas estradas de Provence, parte 3: do alto da colina, Bonnieux

No meio de tanta poesia provençal dos posts anteriores, não sei o quanto fui clara no seguinte recado: Provence é pra ser explorada de carro e somente de carro


Ressalva: Excluem-se do grupo acima indivíduos com pernas pra encarar o sobe e desce das colinas provençais de bike. E a esse seleto grupo de atletas, fica a boa notícia:  bem vindos ao paraíso dos ciclistas apreciadores do melhor da vida! Das "grandes" rodovias ao labirinto de estradinhas de terra de Luberon, a região conta com sinalização da rota ciclismo no caminho. Aos ciclistas que desejam roteiros solitários porém com um mínimo de assistência, empresas especializadas em levar sua mala de uma cidade a outra enquanto você percorre o circuito pedalando. Vide ciclomundo.

paraíso dos ciclistas: sinalização da rota provençal
Agora de volta ao grupo dos meros mortais: se você, como eu, pertence ao grupo dos "sem pernas de atletas" (acreditem, não é uma volta no parque) e porta consigo uma carteira  nacional de habilitação, reforço a dica: Rent a car.

Isso posto, back to the road. Da rodovia D973 rumo a Gordes avista-se, nas encontas da colina, o vilarejo que parece pintado à mão: Bonnieux.

no alto da montanha: Bonnieux
 A cidade parece adormecida. Sem carros na rua, sem feira, sem locais voltando da feira com uma baguette na mão. A cidade segue vazia e calada.



O silêncio é interrompido pelas badaladas do sino da igreja no topo da colina. Meio dia em terras provençais.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pelas estradas de Provence, parte 2: Aix-en-Provence

Aix-en-Provence: Terra de Cézanne, das águas (diga-se fontes) e das patisseries de calissons (docinhos de amêndoas que conseguem ser ainda mais charmosos que os parisienses macarons). A cidade de 150 mil habitantes tem o melhor da cidade grande em forma de charme provençal. Roteiros gastronômicos se misturam aos passos de Cézanne. Uma vida cosmopolita de cafés, ateliês, livrarias em perfeita harmonia com o perfume e colorido das grand marchés, das flores colhidas no campo, no pão fresco da boulangerie e outros  tantos sinais de vida simples provençal. 

Terra natal e fonte de inspiração de Cézanne
Ateliê de Cézanne
E como não falar de gastronomia na meca dos prazeres sensoriais? A chamada Cuisine du Soleil valoriza o fresco, o maduro, as ervas e frutos da estação. E assim, uma explosão de cores, aromas e sabores se faz presente das bancas de rua aos restaurantes de luxe com estrelas Michelin. 
patisseries (docinhos calissons) ...
fromageries ...
boulangeries ...
e boucheries...
E em algum lugar entre o trés simple e trés chic, um achado gastronômico por menos de 30 EUR incluindo prato principal, vinho e sobremesa. White Restaurant, Place des Augustins, 4. A melhor salada que já experimentei na vida. Folhas verdes, Queijo chévre crocante, lardons (Famoso bacon. E eu juro que odeio bacon), molho de mel, balsâmico e azeite marinado de um dia pro outro. E para acompanhar, vinho rosé de St. Tropez (e sem fazer cara feia pra vinho rosé. Os vinhos da região de Côte D'azur, bem ali do lado, são de excelente qualidade e combinam perfeitamente com a culinária provençal). Um desbunde, meus queridos. Incluam na listinha de prazeres de uma vida. Está na minha voltar.

arte contemporânea...
... culinária local ...
... vinho regional.

Confesso meu preconceito inicial com a idéia de me basear numa cidade (e não vilarejo). Em plena Provence dos vilarejos mil, de achados num labirinto de estradas de terra, das hospedagens em casarões antigos, de cafés da manhã nos jardins de inverno, de verão, de primavera, de outono... Lá estávamos nós numa cidade com mais habitantes, mais infra e mais vida cosmopolita do que minha cidade natal no interior paulista. Mas entendam: quando se chega às 22h da noite, de carro, num território desconhecido, nada mais razoável do que achar um hotel num centro iluminado, com restaurantes e um centro de informações turísticas. 

E assim surgiu Aix. E Ali nos baseamos e de lá não mais saímos. E por Aix me apaixonei.